Você já deve ter ouvido frases como:
“Ah, mas todo mundo tem um pouco de autismo!”
“Eu também odeio barulho, será que sou autista?”
Essas falas são muito comuns, especialmente à medida que o autismo ganha mais visibilidade nas mídias. Dessa forma, as pessoas começam a se identificar com alguns comportamentos descritos e trazer indagações sobre o tema.
Mas afinal, se todos nós temos certas características parecidas, o que realmente diferencia uma pessoa autista?
A resposta está na intensidade, na frequência e no impacto que esses traços causam na vida da pessoa. Vamos entender mais sobre isso?
Traços autistas: o que existe em todos nós
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por dois grandes grupos de sintomas:
- Dificuldades persistentes na comunicação e interação social — como compreender expressões faciais, sutilezas ou linguagem não verbal;
- Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades — como necessidade de rotina, hipersensibilidade a sons e texturas, e foco intenso em determinados assuntos.
O DSM-5 reforça que esses traços só configuram o diagnóstico de TEA quando são intensos o suficiente para causar prejuízos significativos no funcionamento social, escolar, profissional ou em outras áreas da vida.
Ou seja: as características existem em graus em todas as pessoas, mas no autismo elas são muito mais marcantes e afetam a rotina.
Exemplos práticos
Veja como alguns comportamentos comuns em qualquer pessoa podem se tornar desafiadores quando aparecem com maior intensidade e persistência:
| Situação cotidiana | Traço leve (comum em todos nós) | Quando pode indicar autismo |
| Sensibilidade a sons | Incômodo ocasional com barulhos fortes | Dor ou sofrimento real com sons comuns, como o de um secador ou buzina |
| Rotina | Preferir planejar o dia ou seguir horários | Sofrer intensamente com mudanças mínimas na rotina |
| Interesses | Gostar muito de um tema específico | Focar tanto em um assunto que isso domina o tempo e as conversas |
| Comunicação | Sentir dificuldade em “puxar papo” com desconhecidos | Dificuldade persistente em compreender ironias, expressões faciais e regras sociais |
| Contato físico | Preferir menos abraços ou toques | Rejeitar completamente o toque por desconforto sensorial |
| Organização | Gostar de tudo em ordem | Sofrer ansiedade intensa se algo é deslocado do lugar habitual |
Essas diferenças mostram que as características autistas não são estranhas — o que muda é a intensidade, frequência e o quanto interferem no cotidiano.
Atenção: o diagnóstico deve ser feito por um profissional
Embora muitas pessoas se identifiquem com comportamentos autistas, o diagnóstico de TEA deve ser feito exclusivamente por um psiquiatra especializado — preferencialmente com experiência em neurodesenvolvimento infantil e adolescente.
O profissional avalia, entre outras coisas, se o paciente preenche todos os critérios clínicos do espectro, considerando:
- A presença de dificuldades na comunicação e interação social;
- Padrões repetitivos e restritos de comportamento, como aversão ao contato físico, alta sensibilidade sensorial, interesse extremo em um tópico, entre outros.
- O início dos sintomas na primeira infância (mesmo que se tornem mais evidentes depois);
- E o impacto funcional desses sintomas na vida escolar, familiar e social.
Além disso, o diagnóstico pode envolver entrevistas clínicas, observações comportamentais e, quando necessário, o apoio de psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais.
É um processo cuidadoso e multidimensional — nunca baseado em testes online ou autodiagnóstico.
Por que é importante entender essa diferença
Dizer que “todo mundo é um pouco autista” pode parecer inofensivo, mas diminui a experiência das pessoas autistas, que realmente enfrentam desafios diários na comunicação, na regulação emocional e na adaptação a mudanças.
Compreender que todos compartilhamos traços de neurodiversidade, mas em níveis diferentes, é o caminho para a empatia verdadeira — sem negar as necessidades de quem está dentro do espectro.
Como destaca a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o autismo deve ser entendido dentro de um espectro amplo, que vai desde casos leves até quadros com maior necessidade de suporte, sempre com base na avaliação clínica individual.
Como você viu aqui, muitos comportamentos autistas também existem em pessoas neurotípicas — e é isso que torna o ser humano tão diverso.
No entanto, o que define o autismo não é “ter um pouco disso ou daquilo”: é a intensidade, persistência e impacto desses traços no dia a dia.
Falar sobre o espectro com empatia e informação é o primeiro passo para uma sociedade que entende, respeita e acolhe as diferenças.
Para saber mais sobre o autismo, se tiver dúvidas, marque uma consulta com a Dra. Jaqueline Bifano!








