Charme, birra, mimo, petulância, má criação. Durante muito tempo o aspecto cultural brasileiro (e quiçá mundial) taxou de forma equivocada grande parte dos medos e ansiedades infantis, mas hoje o parâmetro e totalmente diferente e o diagnostico passou a ser base para muitas situações pelas quais nossos pequenos enfrentam durante a infância.
É claro que, assim como nos adultos, alguns medos e sensações de aperto são comuns devido ao inesperado e desconhecido. Eles tendem a desaparecer a partir do momento em que enfrentamos os mesmos percalços. Mas nem sempre aquele desafio é na realidade uma pequena etapa a ser vencida.
Atualmente cerca de 8 a 12% dos menores, com faixa considerada infanto-juvenil possuem alguma condição que se encaixa como transtorno de ansiedade em todo mundo. E os números são um pouco diferentes no nosso país, onde 4,6% das crianças e 5,8% dos adolescentes possuem tal diagnostico.
Normalmente os pais não percebem o transtorno de ansiedade de forma imediata, acreditando ser algum nervosismo ou preocupação típica da infância, dificultando que ela tenha algum acompanhamento de forma mais imediata. Normalmente a ansiedade e percebida e também diagnosticada quando a criança passa a se sentir impossibilitada, limitando sua capacidade de efetuar a mais simples das atividades, e quando essa sensação e não controle possuam episódios recorrentes. Os sintomas costumam variar de acordo com o motivo base da ansiedade, tendo cinco os motivos destacados como os mais comuns: transtorno de ansiedade de separação, transtorno de ansiedade social (ou Fobia social); Fobias especificas e os mais conhecidos transtorno de ansiedade generalizada e transtorno do pânico.
A palavra “ausência” é a que melhor se encaixa para crianças com o transtorno relacionado a separação dos pais. As crianças possuem um medo incontrolável em ficar com um terceiro desconhecido, que venha a fazer a via de um dos elos fundamentais da infância. Grande parte se recusa a ir à escola, possuem maior apego aos pais – chegando a evacuar e urinar nas roupas, quando separadas dos mesmos. Negam a ir para cama, comer e somatizam dores para que o cuidador não deixe o seu lado.
É bem comum que, na ausência parenteral, um professor ou ente querido se torne o “objeto” de feição. Ser o “centro” por vezes não é algo bom, como os menores que sofrem de Fobia Social. Muitos deles se sentem aflitos com situações simples do dia a dia, como conversar com colegas ou professores, ir a algum aniversário com a roupa errada, falar ao telefone e usar banheiros.
A mais comum para diagnostico seria a limitação do convívio quando se e solicitado para apresentar algum trabalho escolar. “Perigo” também é algo que chama e muito a atenção de forma negativa de nossos pequenos. Por vezes eles sentem um medo real de alguma situação que represente alguma ameaça a eles, devido experiências passadas desagradáveis ou até mesmo por ter assistido em algum filme ou lido em uma revista em quadrinhos. Lugares escuros, tempestades, cobras, aranhas e elevadores são os mais comuns. Alguns outros são criados pelo próprio ambiente paternal, em carácter de ameaça, como o medo a injeções, hospitais, agulhas e “máquinas dos dentistas”.
Finalizando, o termo “e se” encaixa com maestria no transtorno de ansiedade generalizada e pânico. As preocupações frequentes e que não possuem controle próprio já são difíceis de se cobrar dos adultos. E nas nossas crianças não é nada diferente, chegando a ser um pouco pior.
A imaginação fértil faz com que nossos miúdos criem diversos perigos ou obstáculos para qualquer, literalmente, situação do dia a dia. E isso afeta diretamente o desempenho escolar e domiciliar, pois o medo de algo ocorrer ou julgamento dos colegas inibe qualquer segurança em realizar tarefas com maestria.
No transtorno de pânico, o quadro agudo de tontura, coração disparado, vômitos, sudorese e falta de ar em reposta a algum medo, faz com que os pais fiquem mais preocupados, e facilita o diagnóstico. Entretanto, o medo de um novo episódio de pânico também dificulta o bom desenvolvimento dos filhos.
Situações inexplicáveis, incontroláveis e irrefutáveis? Talvez não. A presença dos pais é FUNDAMENTAL para se evitar ou diminuir a ocorrência de qualquer desses transtornos de ansiedade. E convenhamos, que filhos ansiosos também levam a pais ansiosos (assim como a premissa oposta se faz verdadeira).
E as formas de se ajudar nossas criações são várias! Prestar um pouco mais de atenção a real necessidade do filho, quando ele está passando por alguma situação difícil na escola, sem menosprezar esse problema. Ajude-o a vencer! Reconhecer e principalmente aclamar em alguma situação de sucesso, faz toda diferença para o nosso pequeno querer mais e mais obter êxito!
Observar a forma como ele reage a situações positivas e negativas, para tentar dialogar para uma boa mudança ou avaliar o desenvolvimento da sua maturidade. E, principalmente, ter uma rotina que permita uma flexibilidade, deixando o ambiente livre e leve para ensinar que ser metódico é bom, mas viver é fundamental!
Texto: Dra. Jaqueline Bifano – Psiquiatra especialista em crianças e adolescentes.